Quando pensei em engravidar fiz todo o planejamento necessário para tal. Na vida de uma mulher com o perfil “executiva”, planejadora e controladora tudo tinha de ter uma preparação, um bom planejamento, muito estudo para, aí sim, chegarmos aonde eu e meu marido gostaríamos de chegar … no nosso tão esperado FILHO.

​Logo que toquei no assunto, a minha médica de anos me impôs algumas restrições que não me soaram muito bem. Ela veio cheia de regras, dizendo que não fazia parto normal, pois ela não poderia perder horas e horas, às vezes até o dia todo com uma só paciente e que o parto tinha de ser em um dos hospitais da região do ABC, onde ela atendia, que ela não iria para São Paulo pois perderia 2h no trânsito para ir e mais 2 para voltar, enfim, a não ser que eu pagasse o dia dela de atendimento no consultório ela simplesmente não iria me atender como eu gostaria. Pasmem! Onde ficariam meus desejos, as minhas vontades e meus sonhos para um momento tão esperado da minha vida? Cheguei à conclusão que ela era uma excelente ginecologista, mas como obstetra não conseguiria atender minhas expectativas.

​O primeiro passo, então, seria encontrar um bom profissional para me acompanhar nessa jornada.

Queria uma médica jovem e moderna que esclarecesse todas as minhas dúvidas, que me trouxesse informações atualizadas e que soubesse argumentar bem sobre elas (para que eu realmente acreditasse nelas), que me desse segurança para encarar um medo enorme que eu tinha do temido PARTO e, acima de tudo, que respeitasse meus desejos e vontades.

​Sem indicação de ninguém, com pesquisas via internet, eu encontrei uma profissional com quem simpatizei. As avaliações positivas sobre ela eram inúmeras, ela era jovem, atendia na minha região e mais, atendia o meu plano de saúde. Logo na primeira consulta com a Dra. Lívia sabia que seria ela a médica que, num futuro próximo, me ajudaria a trazer meu sonho ao mundo.

​Após 4 testes, 3 de farmácia e 1 de sangue (todos positivos!) lá estava meu sonho a caminho e, com ele, muita insegurança, um turbilhão de sentimentos e um medo sem fim do parto.

Lembro bem que ouvi da secretária da minha médica a pergunta: “Você vai querer conhecer nosso programa de parto humanizado?”, quase caí dura! Logo imaginei o pior cenário daquela palavra “humanizado”: um parto no meio do mato, sem recursos, num dia de chuva, com raios e trovões … rs. Santa ignorância a minha! Lógico que não tinha respostas naquele momento, pois não sabia exatamente do que estávamos falando … eu, curiosa, fui tentar entender melhor do que se tratava exatamente.

​Em meio a tantos sentimentos, sendo o medo um dos grandes protagonistas, compartilhei minhas angústias com a Dra. Lívia e sai do consultório com um receituário bem diferente: indicações de livros para ler e filmes/documentários para assistir. Ela estava me munindo de informação. Fantástico!

​Cheguei tão cheia de medos e insegurança e fui acolhida de tal forma que nenhum texto bem escrito poderá expressar tanto carinho, atenção, paciência e, acima de tudo, RESPEITO. Li os livros, li matérias, artigos, assisti filmes, documentários e a cada nova consulta eu me sentia mais dona da situação, mais informada, mais forte e confiante. Virei protagonista da minha história e sim, eu agora tinha a resposta para a secretária da minha médica: SIM, eu queria um parto humanizado.

​Me preparei fisicamente e emocionalmente para este momento. Depois de conhecer o programa, conhecer efetivamente o termo HUMANIZADO, eu quis aquilo para mim e para o meu filho com todas as minhas forças. Sabia o que era melhor para nós dois. Queria tentar, inclusive, o parto natural (mas, lógico, sem descartar a opção de receber uma analgesia caso não suportasse as dores).

Eu visualizava meu parto, visualizava a bolsa estourando, a doula me ajudando a aliviar as dores das contrações, me via na banheira, no chuveiro, dançando, chorando ….

​Eis que, com 32 semanas de gestação, após uma ultrassonografia descobri que meu bebê estava sentado e aquilo foi quase que um balde de água fria para mim. Sofri, chorei, mas não, não desisti. Tentei reverter de todas as formas a posição pélvica do meu pequeno, só que em vão. Ahhhh … como meu filho já me ensinava mesmo antes de chegar aos meus braços. Ensinou à mamãe com o perfil “executiva”, planejadora, controladora que NÃO, não dependia mais dela, o controle da situação estava todo com ele, com meu filho.

​E foi assim … minha bolsa estourou no fim de noite de um domingo. Na hora que ele quis …

Eu e meu marido compartilhamos tudo o que estava acontecendo com a nossa doula e nossa obstetriz. Esses anjos nos orientaram e nos acalmaram até o momento de chegamos ao hospital, onde ambas já estavam lá, nos aguardando.

​Na sala de triagem do hospital chorei ao saber que o meu trabalho de parto estava evoluindo rapidamente, que tinha tudo para ter o parto como eu imaginava, mas aceitei a decisão e a escolha do meu filho, e não fiz mais nenhuma manobra para tentar revertê-la.

​Eu tive todas as contrações, tive dilatação e senti tudo, TUDO o que eu queria sentir … cheguei a ter contrações a cada 1 minuto. Quanto orgulho eu tenho hoje em dizer isso. Enquanto caminhava para a sala de cirurgia toda a equipe parava e aguardava uma nova contração para que eu pudesse seguir, pois não, eu não quis circular de cadeira de rodas pelos corredores do hospital.

​Tivemos de seguir com a cesariana. Seguimos sim para a sala de cirurgia, mas não para uma cesária agendada … respeitamos o tempo do meu filho, a hora dele e por trás disso estava uma equipe ímpar, um grupo de seres humanos incríveis.

​E SIM, eu tive uma cesária humanizada. E mais uma vez, SIM, ela é possível!

​A humanização vai além do tipo do parto escolhido ou possível … cesária, normal, natural, em casa, no hospital. Em resumo, a humanização nada mais é que o respeito pelas nossas vontades, onde a protagonista de todo o processo é a mulher.

​Como meu filho acabou chegando um pouco antes do que esperávamos, com 37 semanas e 3 dias, não tinha terminado de escrever meu plano de parto, mas todos os meus desejos foram respeitados e a equipe conduziu tudo como eu realmente gostaria:

– Esperamos o momento dele, a bolsa estourar, as contrações e tudo mais. Lá dentro ele já sabia que algo grandioso estava para acontecer. Ele nos mostrou que estava pronto para vir ao mundo.

– Meu marido me acompanhou durante todo o tempo, desde a triagem, inclusive no momento que tomei a anestesia, até que eu fosse conduzida para a sala de recuperação pós-parto. Me senti mais segura tendo ele sempre as minhas vistas, sempre ao meu lado.

– A minha equipe também permaneceu ao meu lado desde que eu dei entrada no hospital. Ninguém fez exames ou nenhuma intervenção desnecessária em mim. Minha obstetriz e minha doula fizeram o real papel de anjos protetores, questionando os profissionais do hospital nos momentos que achavam necessário e oportuno.

– Já na sala de parto, as luzes foram reduzidas, a iluminação era suave e muito aconchegante, com apenas um foco de luz no local onde seria realizado o procedimento.

– O ar condicionado também foi ajustado para uma temperatura agradável, bem quentinho e acolhedor.

– Imperava o silêncio na sala de cirurgia, não tinha ninguém falando de assuntos aleatórios ao meu grande momento, eu só ouvia a voz do meu marido me incentivando e me acalmando, e quando o silêncio era quebrado pela equipe, era narrada a chegada do meu pequeno ou vinha uma pergunta de preocupação e acolhimento: “Você está bem, mamãe?”, “Está tudo bem por aí?”

– O cordão umbilical não foi cortado com tanta rapidez, foi esperado o tempo possível para as condições.

– E, para mim, o mais incrível deste processo humanizado é que logo após sair da minha barriga o meu filho veio direto para mim, eu fui a primeira a segurá-lo, a acariciá-lo e ali mesmo já iniciou o processo de amamentação. Sim, iniciamos o aleitamento na sua primeira hora de vida.

​Enfim … tudo isso para dizer que SIM, é possível uma cesária humanizada.

​Para minhas amigas, colegas e futuras mamães deixo um único conselho: informem-se! Decidam o que for, mas baseadas em informação. Sejam protagonistas de suas histórias. Façam valer seus direitos, desejos e vontades e não aceitem as desculpas, as regras e as restrições impostas por qualquer profissional. Questionem sempre!

​Aproveito para deixar registrado meu agradecimento e minha gratidão a esta equipe maravilhosa que nos acompanhou nesta jornada de forma tão carinhosa e, acima de tudo, com muito, muito respeito: Thais Barrall (doula), Juliana Freitas (obstetriz), Joyce Mello (psicóloga), Lucas (anestesista e fotógrafo …rs), Dra. Fernanda Eyer (obstetra auxiliar), Madá (a secretária mais querida e animada de todos os consultórios) e a minha linda e competentíssima médica, Dra. Lívia Lopes Franzini (obstetra).

​Um beijo especial meu, do Luciano e do nosso pequeno Theo.